
A divisão social do trabalho a partir da venda da força de trabalho, e também da respectiva divisão sexual do trabalho decorrente do patriarcado, colocou a mulher em uma nova forma de opressão atrelada ao modo de produção exploratório do assalariamento.
Em nossa formação sócio-histórica capitalista dependente periférica e autocrática burguesa temos algumas determinantes que criam seus próprios mecanismos de controle sobre as pessoas e pressionam ainda mais os grupos historicamente oprimidos, como mulheres, indígenas e negras.
Pensar a emancipação feminina e a tradução dos acúmulos históricos das lutas das mulheres perpassa a superação deste modo de produção e seus desdobramentos na configuração que, reflexo da totalidade, produz mediações particulares de acordo com cada espaço.
O papel social imposto à mulher na relação social capitalista traz uma série de elementos que reforçam a naturalização da concepção de universalidade e generalização dos instrumentos de controle dos corpos femininos e da divisão entre espaço público e privado, entre trabalho remunerado e não-remunerado como forma de vinculá-lo às supostas dimensões “maternais” e de cuidado das mulheres.
Nos tempos atuais, de crise profunda do capitalismo, negacionismos e revisionismos são instrumentalizados para aprofundar a retirada de direitos das trabalhadoras, colocando-as em uma situação de extrema exploração para que os vários setores da burguesia nacional e internacional lucrem cada vez mais.
A crise profunda que vivenciamos nessa quadra histórica, ampliada em um governo ultraneoliberal e protofascista de Bolsonaro-Mourão-Guedes, traz uma alta conta que, se depender do atual governo genocida e do capital financeiro internacional, será paga pela nossa classe.
Mais de 252.000 mortes, 15 estados brasileiros com 90% de ocupação de leitos hospitalares, ausência de uma política nacional de imunização, o desgoverno da morte encaminha o genocídio sem precedentes na história, tripudiando da gravidade da situação e praticando crime contra a humanidade que já ceifou milhares de vidas.
Contrarreforma trabalhista, previdenciária e administrativa: outras facetas do projeto genocida de terra arrasada que aprofundam o buraco no qual já estamos: desemprego na casa dos 22%, aumento dos itens da cesta básica (arroz a R$ 40,00, botijão de gás mais de cem reais, carne mais de R$ 70,00), fim do auxílio emergencial e o povo passando fome e retornando a patamares de miserabilidade que tínhamos há quarenta anos.
A violência contra a mulher também mostrou-se com toda crueza e crueldade na maior crise de nosso tempo histórico. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil teve o registro de 648 feminicídios no primeiro semestre de 2020, o que mostra um aumento de 2% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Observamos, dia após dia, como o capitalismo e suas novas formas de acumulação e superexploração esvaziam, dizimam e precarizam da vida daquelas que sangram em seus cotidianos, chorando seus mortos – seja por uma pandemia que escancara a exploração intensa- base dessa sociabilidade-, seja pela utilização, desde o processo genocida de invasão e colonização, do extermínio da população indígena, negra, de mulheres, LGBTQI+, lutadoras e lutadores sociais no dia-a-dia de luta pela sobrevivência e pelo avanço da consciência de nossa classe.
Esse extermínio se dá nas periferias das cidades e no campo, o Estado brasileiro está armado apontando, sempre, para aquelas e aqueles que constituem vidas descartáveis para os setores da burguesia. Por isso, nossa contraofensiva é caminho necessário para derrubarmos Bolsonaro-Mourão e lutarmos por nossas vidas.
Toda e qualquer forma de organização de processos de luta, significa ameaça a ordem posta. Ordem esta que com seus mecanismos formais, inclusive estatais, instrumentaliza meios de controle e vigilância sobre as trabalhadoras, seja na algoritmização da força de trabalho, na redução da vida política a uma mercadoria de consumo individual disponível em cliques, seja em uma nova morfologia do trabalho na qual há a transferência dos custos dos meios de produção para nós mesmas.
Em tempos de “confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada”, capilarizarmos o feminismo classista, na construção da teoria e prática revolucionárias em nossos locais de trabalho e estudo é tarefa central. Nosso compromisso é com a luta contra o capitalismo a partir do trabalho de base, organizado, com as mulheres trabalhadoras do campo e da cidade, no fortalecimento da consciência coletiva da superação da propriedade privada e do fim da exploração do ser humano pelo ser humano.
Organizarmos nossos sindicatos combativos classistas, grêmios estudantis, centros e diretórios estudantis, associações de bairros, movimentos no campo de luta pela reforma agrária e soberania alimentar, a partir da consolidação do projeto do Poder Popular com táticas e estratégias que trazem o feminismo classista como práxis revolucionária, amalgamada com as lutas populares.
Sem feminismo classista, não há revolução!
Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro Goiás e Distrito Federal