CARTA ABERTA SOBRE ELEIÇÕES PARA REITORIA DA UFG (2021-2024)

Por uma UFG para além dos interesses de Mercado, por uma UFG Popular e o porque não apoiamos nenhuma das Chapas concorrentes!

  1. Contexto de luta e autonomia das IES (Instituições de Ensino Superior)

Estamos em época de consulta para a Reitoria da nossa Universidade, e nós, professores e estudantes da UFG, que atuamos nas lutas sociais dessa Universidade, na Extensão Popular, através da Corrente Sindical Unidade Classista (UC) e da União da Juventude Comunista (UJC), do Movimento por uma Universidade Popular entre Trabalhadores (MUP), na Graduação e na Pós graduação, bem como no Movimento Estudantil, queremos trazer contribuições ao debate a partir de um balanço crítico, a luz de nossa conjuntura. 

Vivemos tempos difíceis, o Brasil tornou-se o epicentro da pandemia no continente em decorrência do negacionismo, difusão de mentiras, descrença na ciência e da postura criminosa de sabotagem da política de enfrentamento à COVID-19 por parte do governo genocida de Jair Messias Bolsonaro e seus apoiadores, política que reverbera na desvalorização da vida.

O desemprego, o ataque a direitos sociais, a violência contra lutadoras e lutadores sociais, o aumento dos itens de cesta básica e a miséria, fizeram a fome ser cenário frequente em nosso país, evidenciando a crise do modo de produção capitalista que se agudizou com a pandemia e a agenda ultraneoliberal.

A educação pública e gratuita, alvo central do governo genocida, sofre com os ataques contínuos: precarização das condições de trabalho, prioridade da agenda ultraneoliberal com a reforma administrativa (PEC 32/20) e o projeto de lei 5595/21 (prevê educação como atividade essencial sem a previsão de imunização vacinal em massa) de um lado e o famigerado future-se 2.0 e sua sanha privatizante de outro, cortes nos orçamentos das Universidades e Institutos, nos recursos estudantis, além das intervenções e nomeações de reitorias e direções à revelia da comunidade universitária, em um ataque profundo à autonomia universitária.

A prática da intervenção das IES vem se configurando como uma estratégia política sistemática. O ataque à autonomia e democracia nas instituições têm impacto não só administrativo, mas na vida acadêmica e nas relações internas.

Logo, colocamos a importância da defesa da autonomia universitária e o respeito em relação à escolha da comunidade universitária no processo.

Reforçamos que reitor(a) eleito(a) é reitor(a) empossado(a), com isso repudiamos qualquer forma de ingerência e golpe pelo governo federal na UFG. 

Importante também destacar como o atual momento fez com que o projeto do capital para educação ganhasse força: seja por meio do ERE (Ensino Remoto Emergencial) e seus desdobramentos que significam uma precarização do trabalho para os(as) trabalhadores(as) da educação e um rebaixamento da qualidade de ensino para os(as) estudantes, seja por meio da imposição de uma agenda privatizante e superexploratória do trabalho vinculada ao mesmo.

Em plena pandemia, com 90% de leitos ocupados, ausência de materiais hospitalares, mortes e miséria avançando, as/os trabalhadoras/es, para garantir sua sobrevivência, tiveram que se submeter ao risco de contaminação e morte ou foram demitidas/os, vide as/os trabalhadoras/es terceirizadas/os da limpeza e segurança da UFG.

O corte do auxílio emergencial, o retorno do mesmo com um valor pífio frente à generalização da carestia e aumento dos itens da cesta básica, levaram a insegurança alimentar para 6 (seis) de cada 10 (dez) famílias brasileiras.

O alto índice de evasão de estudantes nas IES e o processo de adoecimento de estudantes e professores têm, cada vez mais, permeado a realidade universitária.

O modelo atual é continuidade do processo de gestão predominante nas nossas Universidades, um modelo que está à serviço das classes dominantes e seus interesses no Estado autocrático e dependente brasileiro.

  1. O modelo atual de gestão das Universidades e o lugar da UFG

Importante lembrarmos que o modelo atual de gestão das universidades no Brasil investe a verba pública sobre ações acadêmicas que produzem conhecimento que atende ao interesse da lógica industrial e financista depredatória para as classes trabalhadoras; atua a serviço da internacionalização, ranqueando “melhores cabeças“, de modo que a meritocracia se opõe à socialização do conhecimento, o qual nunca, mal ou somente tardiamente chega aos setores menos favorecidos socioeconomicamente da população brasileira. Em suma, o sentido geral desse modelo é o da competitividade capitalista, o qual, no caso brasileiro, deixa de atuar nas bases populares do próprio país, deixando de atuar no sentido de equilibrar a formação prévia à universidade.

Este modelo não se inaugura nos últimos anos, é aprofundado apenas, são os projetos de gerência do Estado e a submissão ao capital, realizadas tanto pelos governos neoliberais do PSDB/PMDB ou mesmo os governos conciliadores do PT/PMDB: portanto, o que temos nessa conjuntura, é a continuidade e aprofundamento de um modelo de universidade pública no Brasil que é voltado para o “mercado”, compromissado e submisso ao desenvolvimento técnico-científico como moeda de troca do empreendedorismo e da inovação, promotor da competição e do individualismo em todos os espaços da universidade e que hoje tornou-se ainda mais segregador e elitista, pois  não se tem ações no sentido de mudar a realidade social degradante das periferias, das comunidades sociais historicamente marginalizadas nem junto aos grupos rurais desprovidos de atendimento social e econômico. Esse modelo muitíssimo parcialmente muda a vida socioeconômica de uma filha ou filho das famílias pobres brasileiras, além do que mantém, em vez de modificar, a relação valorativa entre diversas formações, como a formação em medicina, por exemplo, e a formação docente, uma vez que seu princípio é mercadológico.

Esses projetos vigentes há muitos anos no país, por sua vez, não poderiam ser implementados pelas administrações centrais das universidades públicas brasileiras sem a sua total concordância com o modelo de educação superior mercadológica que foi gestada nos últimos anos e incorporado em diversos setores da universidade dentro de uma lógica produtivista, que utiliza a expertise, recursos e espaços públicos para a produção de conhecimento a fim da apropriação e benefício privado. Programas como o REUNI, as Parcerias Público-Privadas e EBSERH são algumas das armadilhas desse projeto. Projeto este escancarado com ações do campo ultraneoliberal como o future-se 2.0.

Não bastasse as ratificadas desse modelo de universidade pelas suas Reitorias, o projeto também contou (e conta) com a colaboração de docentes e técnico-administrativos, através da cooptação, do apassivamento e da burocratização de seus instrumentos de representação (sindicatos-clubes de descontos promotores de enquetes). Infelizmente a UFG tem sido uma das principais universidades federais que estão comprometidas com esse modelo.

Neste sentido, estarmos atentas e atentos às candidaturas que se apresentam nesse momento e aos seus respectivos programas, nos permite perceber, para além da aparente concorrência e de diferenças pontuais, que há uma total anuência de ambas às chapas ao modelo gerencial e privatista vigente.

As chapas que se apresentam corroboram a naturalização do projeto do capital para a educação seja na total assimilação da lógica meritocrática individualista vinculada ao empreendedorismo seja em relação ao produtivismo calcado na intensificação e alienação dos trabalhadores da educação.

Exemplos não faltam: uma das chapas é continuidade da política que predomina na UFG há mais de 15 (quinze) anos, que acelerou o produtivismo imposto de cima pelo MEC e pelas agências do governo federal e abriu a pesquisa na universidade para as determinações do mercado. Já a outra chapa, que fez parte desta mesma política em inúmeros momentos, agora busca se diferenciar pretendendo rotinizar procedimentos adotados por conta da excepcionalidade da pandemia, mas que precarizam ainda mais o trabalho docente e o processo de ensino-aprendizagem, como o ensino remoto. Logo, não existem diferenças programáticas que apontem para um projeto que rompa com a lógica desses espaços na UFG.

  1. Sobre a importância da defesa de um feminismo classista na construção do Movimento por uma Universidade Popular

As chapas são encabeçadas por mulheres que, em nenhum momento qualificam o debate sobre a participação das mulheres nos espaços para além dos chavões e sensos comuns do feminismo liberal: é fundamental a participação de mulheres nos espaços políticos de formulação sobre a concepção e projetos em disputa nas Universidades, e a qualificação deste debate perpassa uma perspectiva que supere a lógica produtivista meritocrática reforçadora da exploração das mulheres trabalhadoras, que, a propósito, dificilmente conseguem acessar e permanecer na Universidade e, na conjuntura atual de recrudescimento dos ataques ultraneoliberais é reforçada a todo momento.

Naturalizar, portanto, o processo de uma política privatista e meritocrática é aprofundar ainda mais a distância da Universidade em relação às mulheres e estudantes trabalhadoras.

Ao analisarmos o conteúdo disponibilizado nos programas verificamos alguns pontos que merecem destaque: ambas chapas normalizam o processo de não realização de concursos para as trabalhadoras vinculadas às atividades de preparação da merenda (alimentação), limpeza, vigilância, transporte, não há qualquer proposta que traga o absurdo e a superação de contratos com empresas privadas que lucram de maneira exorbitante enquanto pagam salários de fome e superexploram essas trabalhadoras.

Esse é um dos exemplos da expansão não questionada por ambas chapas: nenhuma questiona a ausência de garantia de assistência estudantil para mães estudantes e trabalhadoras. Perguntamos: Por que as trabalhadoras terceirizadas da UFG não podem ter acesso à creche?  

Sob a lógica produtivista, naturalizada por ambas chapas, estudantes da pós-graduação trabalham dia e noite nos laboratórios sem direito a descanso e remuneração, trabalhadoras terceirizadas são superexploradas e invisibilizadas no processo de construção da Universidade, por isso, colocamos: de que adianta termos mulheres nos espaços de poder que perpetuam a situação de exploração sobre outras mulheres?

  1. Quais as nossas pautas e agendas na construção de uma Universidade Popular 

A defesa incisiva e firme de outro modelo de Universidade, educação e sociedade que enfrente e ataque o avanço da extrema direita e respectiva base social neofascista, bem como a agenda ultraneoliberal, passa pela seguinte pauta: 

  • Educação não é mercadoria! Enfrentar os oligopólios financeiros da educação! 
  • Em defesa da vida! Vacinação para todas e todos pelo SUS! Pela quebra das patentes das vacinas!
  • Defesa da autonomia universitária e da democracia interna das IES!
  • Não aceitaremos nenhuma indicação para a reitoria por parte do MEC que não respeite o resultado da consulta. 
  • Contra a financeirização da política de assistência estudantil! 
  • Na defesa do orçamento público ampliado para as Instituições de Ensino Superior Públicas!
  • Pela reestruturação e universalização das políticas de permanência e assistência estudantil! 
  • Contra os cortes referentes às bolsas estudantis!
  • A defesa da educação pública, gratuita, crítica e popular! 
  • Produção de Ciência e Tecnologia para o povo brasileiro! 
  • Pela paridade nas instâncias deliberativas das universidades! 
  • Contra a cobrança de mensalidades na Universidade Pública! 
  • Por uma extensão popular e a atuação da universidade junto às periferias, às comunidades não elitizadas, aos quilombos e aos movimentos do campo! 
  • Contra a privatização do HU. Com o SUS e para além do SUS. Contra a EBSERH!
  • Lutar em defesa dos serviços públicos, contra as reformas que retiram direitos sociais, contra a PEC 32/20! Pela revogação do Teto de Gastos! Pela revogação das reformas trabalhista e previdenciária!
  • Contra a repressão aos estudantes em luta!
  • Contra a entrada da PM nos campi da universidade!
  • Em defesa da extensão popular: universidade pública voltada para a população!
  • Dinheiro Público só para Educação e Pesquisas com fins publicos. 
  • Contra qualquer parceria público-privada que coloque a universidade a serviço de interesses empresariais 
  • Contra a utilização da estrutura da Universidade para o uso de grandes empresas e interesses privados como Incubadoras, Empresas Junior ou Centro Tecnológico 
  • Fora Bolsonaro-Mourão-Guedes e a agenda ultraneoliberal para a educação!

NENHUMA DAS CHAPAS QUE CONCORREM À REITORIA DA UFG TEM COMO PRINCÍPIOS, EM SEUS DOCUMENTOS E PROGRAMAS, O COMPROMISO COM A CONSTRUÇÃO DE UMA UNIVERSIDADE POPULAR!

EM TEMPOS DE RESISTÊNCIA E NECESSÁRIA CONTRAOFENSIVA, PRECISAMOS OUSAR LUTAR POR UMA UNIVERSIDADE POPULAR!

Se você concorda que a Universidade pode e deve ser espaço de resistência e construção de uma perspectiva contra hegemônica, contrária às razões pura e simplesmente de Mercado, vamos juntos e juntas construir uma alternativa, nos mais variados espaços da UFG.

Entre em contato e participe de nossas reuniões e calendário de ações através do e-mail: goiasunidadeclassista@gmail.com ou das redes sociais: Instagram: @pcb.go e @mup.goias – Facebook: /unidadeclassistagoias /ujcgoias /MUPGOIAS


Assinam: Unidade Classista Goiás, União da Juventude Comunista Goiás e Movimento por uma Universidade Popular Goiás

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