1º de Maio: momento privilegiado de resistência e luta contra o sistema do capital e a favor da classe trabalhadora

escrito por Gabriel Quinta¹


Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo na cera. (Karl Marx)

Tudo o que nos constitui como espécie, aquilo que nos dá uma razão para existir, se deu e se dá pelo trabalho. A capacidade de pegar o que a natureza nos oferece e de transformá-la em bens de uso socialmente necessários é o que nos fez sobreviver aos climas severos, edificar alojamentos, dominar as técnicas de plantio. Saímos da condição de animais migrantes que lutam pela sobrevivência, para a condição de animais que transformam a realidade e governam o seu destino.

O fogo não foi descoberto por um ser humano iluminado, diferente, melhor e mais capaz do que os demais. A técnica surgiu do trabalho coletivo, buscando atender necessidades da comunidade primitiva, gerando bens e excedentes demandados por essa comunidade. O fundamento ontológico do trabalho deve ser estendido à compreensão da sociedade de classes contemporânea, nele incorporando a contradição social entre classes sociais, pois o que é uma invenção ou um desenvolvimento de uma tecnologia senão um trabalho acumulado de gerações e gerações? A eletricidade, supostamente inventada por Thomas Edson e/ou por Nikola Tesla, é a objetivação de um processo de acumulação das chamadas “ciências duras” e “ciências aplicadas”, sob as formas de trabalho de pesquisas e de trabalhadoras/es que, direta e indiretamente, custearam laboratórios e salários. Não há genialidade singular que crie mercadorias socialmente necessárias ou que edifique máquinas que potencializam capacidades produtivas do trabalho.

A história hegemônica encobre a classe trabalhadora em sua diversidade e multiplicidade, os seus movimentos de rebeldia e as suas lideranças. Frequentemente, são lembrados povos – como populações apagadas – e seus “grandes nomes” – como Napoleão, Gengis Khan e Júlio Cesar. Um passado cuidadosamente privado da contradição social, da vida daquelas/es que tudo produzem e da sua rebeldia. Frida Khalo, Martin Luther King, Guevara e Jorge Amado aparecem como retratos de uma sociedade superada, geralmente castrados da resistência e da radicalidade que internalizaram como sujeitos socialmente projetados.

Nessa história que internaliza “mundos de aparências”, a Igreja promoveu cruzadas para combater aquelas/es que possuíam outra fé, os europeus procuraram promover a civilização na América, na África e na Ásia e a industrialização forneceu os bens necessários para a vida moderna. Efetivamente, genocídios foram legitimados em nome de Deus, povos foram brutalizados como animais e exploração econômica, dominação política e opressão ideológica foram empregadas nas cidades fabris, materializando processos que serviram aos projetos de dominação e de exploração das classes dominantes parasitárias.

O 1º de Maio – Dia Internacional da/o Trabalhadora/or reitera anualmente a necessidade de se escrever a história com base nas categorias de totalidade e de contradição. Portanto, a história deve ter como um dos seus fundamentos a trajetória daquelas/es que, na condição de integrantes da classe que tudo produz, construíram e constroem o mundo por meio do trabalho. Daí, a radicalidade de Walter Benjamim, em O Anjo da História: Tese VI, segundo o qual “o Messias não vem apenas como redentor, mas como aquele que superará o Anticristo. Só terá o dom de atiçar no passado a centelha de esperança aquele historiador que tiver apreendido isso: nem os mortos estarão seguros se o inimigo vencer. E esse inimigo nunca deixou de vencer.”

Os movimentos radicais da classe trabalhadora têm em vista, inicialmente, infringir a derrota ao inimigo que emprega seus intelectuais e seus meios materiais para encobrir a nossa classe no processo histórico. Empenham-se na conscientização, na organização e na mobilização independente e autônoma da classe, resistindo a lógicas que reiteram competição, conformismo e medo. Mas, sobretudo, buscam a edificação de uma sociedade igualitária, justa e livre, capaz de fundar uma sociabilidade alicerçada na solidariedade e na vivência coletiva. Enfim, a luta é por sociedade e vida emancipadas, o que requer a superação da divisão entre as classes e a supressão do Estado como aparato das classes dominantes. 

Assim, o 1º de Maio – Dia Internacional da/o Trabalhadora/or, para além de rememorar lutas e lideranças históricas da classe, deve se constituir em um momento privilegiado de resistência e luta contra o sistema do capital, reconduzindo a crítica do trabalho hierárquico alienado e revelando o trabalho da classe como agente responsável pelas mercadorias finais, bem como reafirmando a emancipação da classe trabalhadora como seu objetivo histórico.

Pelo resgate da história da classe trabalhadora, lutamos!

Por um futuro socialista, lutamos!


1 É militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e da Corrente Sindical Unidade Classista (UC).

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